sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Propaganda, que saudade!

Ontem estava lembrando com uma amiga das propagandas bacanas com as quais fomos agraciadas durante a programação da televisão aberta nas décadas de 80 e de 90. Foi tanta coisa boa que surgiu em apenas cinco minutos de conversa, que a minha companheira suspirou e disse: “Poxa, naquele tempo televisão era tão bom que até o comercial era show...”

Entre as mais lembradas estavam a do guaraná Antartica, no início da década de 90; a da piscina Tone; a da bala de leite Kids; e a do lápis Faber-Castell. Enquanto minha amiga lembrava mais das do guaraná, cujos títulos eram “pipoca com guaraná” e “pizza com guaraná” (lembram? Tinha uns jingles bem bacanas, e a pipoca e a pizza que apareciam eram absolutamente maravilhosas, dava vontade de devorar a televisão, de tão gostosas que pareciam), eu me peguei com muitas saudades do comercial da Faber-Castell. Não porque eu gostasse do lápis; aliás, para mim, lápis, qualquer um mesmo, nem ligo. Mas é que a propaganda trazia a música de Toquinho, “Aquarela”, como tema principal. Ao mesmo tempo em que as palavras da música surgiam, a imagem do que a canção cantava era desenhada no papel. (para os novinhos que não se lembram: quando começa o verso, “numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo” surgia um sol amarelo em uma folha branca, desenhado por um lápis com uma mão de um ânonimo segurando. E por assim vai, durante toda a música).

Ficava louca com esse comercial. Às vezes esperava a hora do intervalo dos programas mais assistidos para esperar pela propaganda, e quando ela ia ao ar ficava cantando, de olhos vidrados na televisão. Adorava quando a música dizia que “o futuro é uma astronave que tentamos pilotar” e eu ficava imaginando como seria entrar na nave desenhada no papel...

Na verdade, o que me atraía realmente na propaganda era o seu tom de esperança. Eu era criança na época em que ela passava; creio que esse comercial da Faber-Castell, a primeira versão, era da década de 80. Tinha a impressão que, toda a vez que eu o assistia, o mundo parecia ser um lugar onde todas as coisas iam dar certo; e a promessa de uma vida melhor não era algo impossível, e sim ao alcance de qualquer pessoa.

Para mim, a combinação da música de Toquinho com os desenhos do lápis da Faber-Castell tinha um raro tom de alegria e simplicidade – algo que não vejo, ultimamente, em nenhum comercial da atualidade.

Hoje, comentei com um amigo pelo MSN sobre isso, e a falta que sinto das propagandas antigas, quando ele abanou a cabeça de sua carinha amarela virtual e comentou: “O que seria do passado sem o saudosismo?”

A Causa

Vi um filme ontem “O Grupo Baader Meinhof” que me incomodou. A história trata da formação e desenvolvimento da Facção Exército Vermelho (em alemão, Rote Armee Fraktion ou RAF), grupo de terroristas da Alemanha Ocidental, do ano de 1968 em diante. Os integrantes do grupo lutavam contra o capitalismo, guerra do Vietnã, avanço do imperialismo americano e das ditaduras na América Latina, entre outros tópicos. O fato de ser sobre terrorismo não era o que me deixava encafifada; o que realmente deixou um friozinho no estômago foi perceber que os anos de formação e ascensão da RAF eram permeados de causas por todos os lados, assim como de pessoas que não se reconheciam por suas nacionalidades, e sim pelas idéias que defendiam. Tentei enxergar algo parecido nos dias de hoje, sem sucesso.

Por exemplo, no filme, a maioria dos personagens eram alemães, mas não eram assim que se auto-identificavam, e sim como comunistas; simpatizantes da causa palestina; lutadores contra o capitalismo. Isso levava a consequências interessantes, como a parceria próxima entre núcleos de terrorismo na Alemanha e guerrilhas árabes na Jordânia; e a frases como a de uma personagem assegurando a seu namorado que a delimitação geográfica da Alemanha Ocidental era apenas mais uma frente na guerra em que todos estavam envolvidos: de um lado, os capitalistas e neo-liberais; do outro, comunistas, marxistas, anarquistas e socialistas.

Como uma época pôde ser tão rica em causas a defender? E ao mesmo tempo, como o nosso período atual tornou-se um cenário tão pobre em lutas sociais? É claro, ainda temos guerra; sempre teremos a guerra. Mas onde estão os jovens e trabalhadores com o povo nas ruas, lutando por um mundo melhor em cada esquina?

Trabalho no centro do Rio de Janeiro. Quem passa por essa área sabe que é uma região conhecida por abrigar passeatas de todos os tipos. Os protestos são sempre liderados por alguém berrando um megafone; e vários apitos e gritos de protesto entre os integrantes do grupo podem ser ouvidos. Isso pelo menos não mudou; a maneira de se protestar. A reação do establishment e do povo às manifestações é que é, hoje, completamente diferente. Os protestos são guiados e apoiados pela Polícia, que fecha as ruas para melhor evolução dos manifestantes;e o povo acompanha com os olhos, apático, o desenrolar do protesto, às vezes reclamando sobre como aquilo “atrapalha o trânsito”.

Vemos aqueles que estão nas passeatas à distância. Não sentimos nenhum tipo de simpatia às causas que não nos afetam diretamente. E observamos os protestos nas ruas, agora, da mesma maneira que os mantenedores do status quo: como um adulto que observa com indulgência uma criança a brincar de com suas peças Lego, a construir uma coisa, qualquer coisa. A criança acha que pode construir uma casa, um palácio; o adulto sabe que aquilo é apenas uma forma disforme, que pode ser destruída a um simples toque seu, se assim decidir.

Não há hoje uma única causa que nos una, a todos, como seres humanos.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Na pista de dança

Como qualquer grande cidade, o Rio de Janeiro tem várias opções para se jogar na pista de dança. Se o freguês prefere rock, temos a Bukoswki em Botafogo ou o Empório em Ipanema; se prefere dança de salão, tem o Democráticos na Lapa; se tem preferência por samba ou soul, shows bacanas ocorrem no Estrela da Lapa ou no Rio Scenarium, ambos na Lapa; ou então no Cinemathéque, em Botafogo. Quem ainda busca pela dupla MPB + pegação, que estava muito em voga na década de 90, pode sempre dançar no primeiro andar do Lapa 40º Graus. Ou então, para os maníaco-depressivos, curtir música pop trash em uma pista de dança completamente derrota total no Buxixo na praça Vanhargen, na Tijuca, também pode ser uma opção.

Sempre encarei a pista de dança como muita seriedade. Para mim, é uma das atividades mais ricas que nós, como seres humanos, podemos participar. Veja bem, não é somente porque eu gosto de dançar, que eu danço. É porque nós somos os únicos mamíferos que dançam espontaneamente. Acho isso o máximo, sempre achei.

Na minha modesta opinião, a pista de dança para mim é um altar onde rezo meu prazer.

É claro que há seus percalços. Nem sempre nesses lugares que mencionei há espaço físico adequado para se dançar “espalhadamente”, que é a minha maneira favorita de chacoalhar. Você fica sujeito a esbarrar nas pessoas, sem querer. Isso acontece.

Mas nem todo mundo encara dessa maneira. Dia desses na Bukowski, estava dançando com uma amiga na pista, que estava lotada. Como o set list do DJ estava muito bom, comecei a me empolgar e me “espalhar” mais do que devia. Devo ter acertado alguma parte do corpo da menina que estava atrás de mim, que depois de um tempo começou a me empurrar sistematicamente, como se dissesse, “esse espaço é meu, você não tasca”. Nem liguei. Com a pista cheia, com gente saindo pelo ladrão, o fato de a garota achar que poderia dançar ali sem esbarrar em ninguém era engraçado.

Porém, cometi um erro. Comentei em tom de mofa com a minha amiga o que a garota “não me toques” estava fazendo, e minha companheira ficou tensa. Ela detesta qualquer tipo de barraco público e ficou com medo de que a situação descambasse para um. Assegurei a ela que não havia a menor possibilidade; que a garota poderia dar todos os empurrões que ela quisesse que eu não sairia dali, e ficaria na minha, na boa, sem brigas. Entretanto, o encanto da dança já estava quebrado. Senti que ela não estava se sentindo bem com o cenário, e sugeri que fôssemos embora.

Aquilo ficou comigo durante dias. Sair sem defender meu espaço na pista de dança; ceder ao bully e à violência de uma garota que nem sabia fazer escova no cabelo direito me fez mal.

Eu prometi para mim mesma que não cometeria o mesmo desatino novamente, e seria mais sábia e mais forte da próxima vez que tal situação ocorresse.

Uma situação similar aconteceu na semana passada, e quis o destino que fosse no mesmo lugar da primeira situação. De novo, uma garota que simplesmente não aceitava ser tocada/esbarrada na pista de dança pequenina da Bukoswki (parênteses: o engraçado é que isso só ocorre com mulheres. Homens não estão nem aí para esbarrões na pista de dança) aparentemente jogou parte de uma bebida com gelo nas minhas costas. A princípio pensei que fosse acidente, mas o mesmo ato repetiu-se uma segunda e uma terceira vez. Como estava acompanhada com a mesma amiga que detesta barraco, não disse nada para não assustá-la. Felizmente naquela noite estava usando salto. E não qualquer salto: um salto plataforma, de madeira, poderoso e pesado. Então, como diria o Chaves, “sem querer querendo” ousei em mais um passo de dança e dei um enorme pisão no pé da garota, que provavelmente viu estrelas.

Se ela tivesse reclamado, eu teria pedido mil desculpas. E pisado no pé dela de novo, naturalmente. E não sairia do meu lugar nem se todos os anjos mais Jesus Cristo aparecessem na pista da Bukoswki. Porque o importante, caros amigos, ao dançar, não é brigar, e sim não perder o lugar.

Graças ao inventor da plataforma, a pisada surtiu o efeito desejado e a garota acabou se mudando de lugar. Achei ótimo. Continuei a chacoalhar o esqueleto quase a noite inteira, pensando em como era bom dançar, dançar,dançar...

Mais tarde contei a história para a amiga que me acompanhava naquela noite, e ela, é claro, ficou horrorizada. Tranquilizei-a com a frase: “Não vai acontecer de novo. Se acontecer, você não saberá. Afinal, pista de dança não é guerra, é estratégia”.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Um dia de fúria

Dia desses estava lembrando um filme antigo com o Michael Douglas, “Um dia de Fúria”, com alguns amigos. A história é sensacional: um cara divorciado, com uma filha, recentemente demitido, fica preso em um trânsito infernal. Isso em Miami, acho. Quando ele está lá, naquele carro horroroso, em um sol infernal, moscas pousando no rosto dele, um calor hediondo, ocorre uma espécie de epifania dentro dele. O cara simplesmente percebe que ele não tem mais que aturar aquilo. Desce do carro e abandona o veículo na estrada.

Porém, uma das coisas que mais me entristece nesse filme é o final. É que, a partir de uma idéia super original, de um homem comum, com desejos similares aos de qualquer um de nós, que simplesmente partiu para cima da sociedade, o filme acaba desviando para uma trama completamente banal, de polícia atrás de bandido. E o fim da película transmite isso.

Mas para mim, a idéia, a premissa, a faísca que fez com o que o Michael Douglas saísse do carro naquele tremendo engarrafamento é genial. Porque todos nós, pelo menos uma vez na vida, já passamos por um momento desses, ou pelo menos no limiar dele.

Esse preâmbulo todo foi só para comentar que lembrei, ontem, de um dia de fúria que tive, há alguns anos em São Paulo. Quando tinha 20 e poucos anos, meus acessos de fúria eram quase tão freqüentes e certos quanto as crises de gripe no inverno (hoje me orgulho de dizer que tenho um acesso de fúria a cada dois anos...pretendo melhorar esse número). Naquela época, tinha acabado de me mudar para São Paulo e não conhecia a cidade. Uma tarde, marquei de me encontrar com dois amigos no shopping Ibirapuera e não sabia o caminho da minha casa, em Campo Belo, até o shopping.

Assim sendo, fui para o ponto de ônibus e pedi informação. Me indicaram um ônibus, ele passou, eu entrei. Conforme o veículo avançava, pude notar que o caminho ficava cada vez mais inóspito, as ruas cada vez mais estreitas. Fiquei desconfiada e perguntei para o motorista. Ele disse que eu havia pego o ônibus errado e estava na direção completamente oposta a do shopping. Desci no próximo ponto, irritada. Estava começando a achar que ia chegar atrasada para encontrar os meus amigos, sendo que marcamos de ver um filme naquele dia, “Gladiador” com o Russel Crowe.

No ponto de ônibus pedi informação e me indicaram outro ônibus. Entrei nele. Passou vinte minutos, meia-hora, quarenta minutos. A atmosfera cada vez mais inóspita me fez desconfiar mais uma vez de algo que confirmei com o motorista ao perguntar sobre o caminho que fazia: eu, novamente, tomara o ônibus errado, e estava mais longe ainda do shopping.

A essa altura, eu só pensava em não perder a sessão de cinema. Minha sorte é que eu tinha saído muito cedo de casa para encontrar com meus amigos (e gastei todo o tempo extra zanzando perdida por São Paulo), então havia chance de conseguir pegar uma sessão cedo, ainda naquele dia.

O motorista, solícito, falou que o melhor era ir até o terminal capelinha, destino final do ônibus e de lá pegar um lotação para o shopping Ibirapuera. Ele disse que não tinha erro, tinha a plaquinha no vidro do ônibus, com os dizeres “shopping Ibirapuera”. E eu sempre podia perguntar para o motorista e para o trocador, e saber se o veículo passaria mesmo onde eu queria ir.

Bom, não sei se todos vocês estão familiarizados com a localização do terminal capelinha. É no Capão Redondo, uma das regiões mais pobrinhas, tristes e feias da capital. Ao me encaminhar para o ônibus que me deixaria finalmente para o shopping, atravessei uma passarela totalmente detonada. Enquanto passava por essa via insalubre, senti que alguém agarrava minha bolsa com vontade, puxando ela do meu ombro. Não sou muito rápida para sacar as coisas, mas naquele momento, consegui captar com rapidez o que estava acontecendo, e o seguinte pensamento me passou pela cabeça: “alguém está tentando me assaltar”.

Então, tudo explodiu dentro da minha cabeça. O fato de eu ter recebido informações erradas duas vezes; ter parado em um terminal rodoviário em um fim de mundo, aliado ao fato de que, nesse dia, alguém ainda tentava me assaltar, ferveu no meu cérebro. Com toda a minha força puxei a bolsa de volta; a alça arrebentou e eu vi a cara do moleque que tentava me assaltar; um frangote de 16 anos. E o que ele viu no meu rosto deve tê-lo assustado um pouco, porque ele hesitou, por dois segundos. Esse tempo foi suficiente para que eu agarrasse completamente a bolsa de volta; metesse um soco de mão fechada no ombro do garoto franzino e ainda berrar com ele, a plenos pulmões, como se tivesse um demônio governando meu corpo:

“Tá-pensando-o-quêêê!!!!!!! Seu *&*$%#@ de uma figa, filho de uma égua sem mãe deslavada (parênteses: os insultos cearenses são os melhores). Ninguém me assalta hoje! ENTENDEU? NINGUÉM!”

O cara correu e eu ainda corri atrás dele, querendo bater no desgraçado. Depois, quando vi o meu ônibus com os dizeres “shopping Ibirapuera” parado no ponto, desisti da perseguição. Mas meu rosto devia estar mostrando uma fúria assassina, porque passei por uma mãe e uma criança de uns três anos que, assustada com a minha cara, começou a chorar e se escondeu atrás de sua genitora.

Felizmente consegui pegar o ônibus e chegar a tempo de ver o filme. Ao contar o que tinha acontecido para meus colegas, eles fizeram o que os amigos fazem nessas horas: gargalharam à vontade, como se não houvesse amanhã. E um deles comentou: “poxa, quem foi o Gladiador hoje não foi o Russel, foi você!”.

Maquiagem

É mais ou menos de conhecimento do público feminino que as mulheres européias e norte-americanas usam mais maquiagem no dia-a-dia do que as brasileiras. Mas ter esse conhecimento, e visualizar esse conhecimento, comprová-lo com os olhos, são duas coisas bem diferentes. Tive a oportunidade de ir para a Grécia e para a Espanha recentemente, e posso dizer com certeza que daria para pintar um quadro do tamanho de Guernica do Picasso com o tanto de tinta que as européias jogam no rosto.

Não me levem a mal, eu amo maquiagem. Uso todos os dias lápis e batom, religiosamente, com direito a retoques oficiais na hora de escovar os dentes após o almoço. Mas creio que há maquiagens e há maquiagens; e como diria minha mãe, há uma hora certa para tudo. E não vejo como você se maquiar como uma coadjuvante de “Priscila, a Rainha do Deserto” às oito da matina em um metrô pode ajudar a elevar seu padrão de beleza.

Em primeiro lugar, pelo que pude entender por meio de observações acuradas, não existe esse negócio de maquiagem leve no verão. Na verdade, não existe maquiagem leve na Europa, da forma como a conhecemos aqui. Sair de manhã para trabalhar apenas com lápis e batom não é opção para as européias, principalmente as gregas. Você precisa estar de sobrancelhas pintadas; sombra; rimmel; lápis; blush; base líquida e batom com cor forte. Isso tudo com os relógios marcando temperaturas próximas a 40 graus Celsius! Graças ao ar seco no continente europeu, em particular em Atenas, é possível sair com tudo isso na cara sem ficar toda melecada no rosto e parecer o Coringa do Heath Ledger ao final do dia.

Até aqui, ok, eu entendo, elas gostam de se maquiar, de maquiagem, devem ter brincado muito de Barbie Face quando crianças (parênteses: lembram da Barbie Face? Meu sonho de consumo quando era mais nova...eu não tinha o brinquedo, mas fiz amizade com uma garota chata no meu prédio em Inhaúma, só para brincar com a Barbie Face dela...). Muito bem, cada um com seu cada um.

Mas imaginem toda a maquiagem possível em uma mulher que não está no metrô, indo para o trabalho às oito da matina, e sim na PRAIA? Sentiu o drama?

Vocês vão me dizer, oras, tem make-up water proof, todo mundo sabe disso, yata-yata-yata. Entretanto, tenho que dizer uma coisinha para vocês, amigos leitores: nem todo mundo tem grana para maquiagem a prova d’água, que lá nas ôropa é quase tão caro quanto aqui.

A prova disso se deu durante um mergulho enquanto estava na praia de Elia, na ilha de Mykonos. Enquanto ficava nadando de um lado para o outro naquela aguinha azul limpinha e geladinha fui surpreendida por um guaxinim vindo na minha direção. Ora, guaxinins não nadam, pensei eu distraidamente (parênteses: nadam? Não tenho a mínima idéia...). Cocei os olhos para ver melhor e percebi que não era um guaxinim, e sim uma moça loira, linda, com duas manchas pretas enormes ao redor dos olhos, que eram o rimmel, a sombra e o lápis que ela tinha passado no olho antes de ir para a praia. Enquanto saía da água em direção à areia, ela tentava tirar a maquiagem dos olhos com água do mar, com a ajuda de uma canga. Mas o que acabava por fazer mesmo era espalhar ainda mais o borrão preto ao redor dos olhos, ao ponto de parecer Silvester Stallone no final do filme “Rocky o Lutador”.

Acho que a maquiagem devia ressaltar nosso rosto, não escondê-lo. Temo que algumas européias, na ânsia de se tornarem mais belas, acabam construindo uma máscara com a maquiagem, que nem sempre reflete o brilho feminino que todas temos dentro de nós.

Mas é só a minha opinião, claro. (:

Assuntos Privados

Uma das coisas que mais me surpreenderam quando viajei esse ano pela primeira vez para o exterior foram os banheiros estrangeiros, e de como a localização da descarga é completamente diferente, a depender de onde você está. Em julho, estive na Grécia e na Espanha, em cinco localidades diferentes; Atenas, ilha de Mykonos, Madri, Toledo e Segóvia. E o leitor pode apostar que, em cada um desses lugares, a descarga tinha um feitio único , incomparável.

Em Atenas, o botão da descarga ficava muitas vezes no chão, bem escondidinho, tanto nos restaurantes como no aeroporto, e em alguns museus. Muito higiênico e inteligente, mas algo bem novidadeiro para uma latina-americana como eu. Para você entender a dificuldade de encontrar um botãozinho no chão, nesses momentos, deixe-me explicar uma coisa. Existe algo chamado memória tactual. Sério mesmo. Seus membros, às vezes, lembram das coisas antes de você. Então, quando se está no banheiro, precisando encontrar o botão da descarga, você pensa que é uma coisa a se fazer com as mãos, e não com os pés. Então, ‘bora perder uns cinco minutos tentando entender como a descarga poderia ser acionada? Pois é, isso aconteceu comigo lá, várias vezes. Como se parte da viagem para conhecer novos lugares também incluísse um tour pelas tecnologias avançadas dos banheiros (parênteses: o botão para acionar a torneira do lavabo também ficava no chão...)

Em Mykonos, a descarga era uma das mais inventivas: era um botão ao lado da caixa d’água que ficava em cima da privada. Nesse caso, não tive muita dificuldade para encontrar porque aproveitei o conhecimento alheio: minha amiga que viajava comigo perdeu seu tempo tentando achar o botão da descarga, e assim que descobriu, foi gentil o suficiente para me repassar tão valiosa informação. Mas em uma taverna em “Little Venice”, região agradabilíssima de restaurantes e barzinhos que ficam à beira-mar da ilha, o dono foi sensacional em sua tentativa de ser compreendido: marcou na parede várias setas até o botão, para facilitar o acesso do usuário.

Nas cidades de Madrid, Toledo e Segóvia, os botões para descarga eram discretíssimos, e completamente escondidos na caixa d’água que normalmente se posicionava acima da privada. O nojento dessa situação é que, se você não sabe onde está o botão, e não percebe em um primeiro momento, só com o olhar, a opção é ficar tateando a caixa (urc!). Alguns botões ficavam atrás da caixa d’água! Como ver isso de cara? Impossível. A única coisa boa na Espanha foi perceber que, além do Brasil, outro país também ainda tem banheiros com cordinha na caixa d´água, que nesses casos ficava sempre presa na parede, quase tocando o teto. Assim como no Brasil, o estado da cordinha, em termos de conservação e limpeza, era sempre lamentável.


Sinceramente, sem querer ser bairrista, mas acho nossas descargas melhores. Além de não ter que esperar décadas para a caixa d’água encher de novo, e assim poder acionar a descarga duas vezes seguidas, se assim preferirmos, o botãozinho na maioria das vezes é no centro da parede, bem visível e auto-explicativo. Mantenha a simplicidade, digo eu. É sempre melhor.

No ferry (em 10/07/2009)

Há dez dias estou de férias, e há cinco estou na Grécia. Ao meu redor, pessoas de diferentes nacionalidades passeiam pelo ferry boat, um grande navio dividido em várias classes, com cadeiras e cabines (óbvio que estou na econômica). Alguns dormem; outros comem. Alguns berram com os amigos, empolgados com a viagem. Outros fitam seus próximos, assim como para si mesmos com um olhar entediado, apático.

Todos se dirigem para a ilha grega de Mykonos. Alguns já vestem o biquíni por baixo das roupas, com tênis, mocassins, ou papetes nos pés. Cada um conta com uma característica em particular, todos são visualmente diferentes entre si.

Há apenas uma semelhança, que todos compartilham: o desejo de sair de onde estão, e ir para algum lugar, qualquer lugar. Assim como para os tubarões, que só respiram quando estão em movimento, ficar parado para nós, seres humanos, não é uma opção.

Subo as escadas em busca de um pedaço de sol, no convés. Encontro várias pessoas em busca do mesmo, cansadas do ar-condicionado e ansiando por algum tipo de ambiente natural. Ao longe, as ilhas cíclades observam a passagem do barco. O que acharão de nós, pergunto eu. Decerto devem considerar que somos uns loucos. "Porque querem sempre ir para outro lugar, esses humanos?' elas devem se perguntar, enquanto continuamos nossa busca frenética por algo, por alguém.
Encontro uma cadeira no convés e sento para apreciar a paisagem. Duas inglesas sentam ao meu lado. Parecem felizes com suas roupas leves e sandálias. Mas não observam a vista. Preferem conversam sobre o que farão em Mykonos.

E o sol bate em meu rosto, meus cabelos. Não sei porque, mas me sinto agradecida por esse momento. Um momento ínfimo, e ao mesmo tempo, infinito, em que não penso em nada de importante, no que vou fazer, para onde vou.

Meus pensamentos apenas giram em torno do mar, em meio às ilhas, e meditam como o sol brilha de forma magnífica no mar Egeu pela manhã.